segunda-feira, 29 de julho de 2013

Derramor III

Pensava em você
Instantes
Tanto quanto bastante
Em que se considera
Distante, esse alguém
Como você

Emaranhava palavras
Enquanto pensamentos em você
Completavam a ameaça
Da caça que vira presa
E caça sem querer

Perdia a vontade de delir
Vontade sumir
Tingir vontades
Avermelhadas

E meus desejos indeferidos
Respondidos com acaso
Tardar referidos
Solenes descasos

Mas não irei ceder
As palavras ferem
E não se desfere
Só por saber
Que a espera me resta


Em troco simplório
Defendo; velo; zelo
O sentimento mais ingênuo
Que cuida de você

domingo, 30 de junho de 2013

Papel

A vida se faz e desfaz em fatos, sejam eles reais ou imaginários, rodeando pensamentos, perguntas, respostas... Encadeando lembranças e sentimentos. A cada um deles se atribui tal importância e poder de transformação.
Entre encontros e desencontros, marco em mim por já marcar nele, nossa união de alma e intimidade aconchegante; nossa simples troca que reside em mim, talvez desde sempre ou desde o momento em que me perdi completamente em seu fundo branco e livre; pronto para ser meu.
Sei que venho de um lugar distante e aqui estou para aprender, mas a chegada nesse planeta me foi muito estranha. Assim me acanhei, procurando primeiro me entender para depois desvendar o mundo. E nesses tempos de solidão, a confusão reinou. E dentro de mim, senti o vazio.
Não sei se existe destino ou coisas simplesmente acontecem, mas presumo que tudo tenha uma razão. De um ordinário trabalho qualquer, encontrei  a chave para abrir a porta de meu conto de fadas secreto; o barco pirata para ir em busca do tesouro perdido; o chão de meu "eu alado". 
Nos preenchemos com palavras e percebi meu caminho traçado com ele. Já que na noite só se há sentido quando a preenchemos com estrelas. De nossa história fazemos estória. De nosso sentimento fazemos arte. E pulsamos a cada letra escrita. Existimos um no outro. A eternidade construímos em cada frase e nosso frutos deixam rastros, mesmo que não exuberantes; mesmo que ainda pequenos e desconhecidos.
Os acasos acontecem e por eles podemos fazer o que queremos. Deles podemos achar um pedacinho da vida. Tão essencial para montar nosso quebra-cabeça. E simples assim, de pedacinho a pedacinho. De lágrimas a sorrisos. De pessoas às pessoas. Nossas crianças crescem e, sem nunca desaparecer, fazem quem somos. 
O ato de escrever, o encontro com o papel e a liberdade que vive nele, me mostrou um caminho encantador e a ele sei que pertenço.

Princípio

Esse foi o começo
Sóbrio e perfeito
Em um momento sem fim

Uma brecha de noite
Engolindo o espaço
E sua ausência

Acanhe-se
No silêncio dos medos
Denotando sentido
Ao desconhecido
Intrínseco em si
Confinado por querer

Falsa solidão
Que acompanha a si próprio
Na invasão livre
Do pensamento ao ato
Da inevitável confusão

Não tenho razão
Mas sou pergunta
Busca em luta justa
Incógnita de quem sou

domingo, 28 de outubro de 2012

Meu Novo Estado


Não sou mais acentuada
Sinto-me errada
Desclassificada e sem moral

Assumo meu ser marginal
Beirando a beirada
De quem não sabe nem o nada

Ainda estou desacentuada
Pálida de receio
Até o erro não mais aplico

Vou voltar...
A chata e velha gramática
E aprender de novo
Aleatório tem acento?
Pois, agora, uso
O sentido dessa palavra

Flama

Decidi
Em estilhaços do meu coração
Juntar os pedaços
Pois dessa situação
Sou palhaço

Não entendo
Não entendo mais nada
Faço arte
E acho graça
Enquanto eu me desfaço

Mas se castigado sou
Devo aceitar meu fato
Não sei onde a vida errou
Ou se o certo não é o que acato

Pergunto-me
Por que me apresentou?
O amor
Se nem tocar posso
E vivo a ilusão dessa dor

Tão malvado foi
Tentando o que não sei
Ou me culpo...
Por ser fora da lei
Afina, eu errei?

Se querer pecar é pecado
Que o inferno me tenha
Ardendo como meu coração abandonado
Enquanto a vida ainda coloca lenha

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

“Desordem”


Imersa em dúvidas
Questões e perguntas
Esboçando sonhos
Rabiscando medos
Encontrando refúgios

Pobre nômade
Sugando almas tristes
Esperando que isso resolva
Que traga a irrealidade
Ao real

Pobre ser
Fora de seu hábitat
O mal esteve a raptar
A áurea está longe
Das estrelas e o luar

O que se faz?
Será o desconhecido capaz
Ser um lar?
Não há mais volta
Tremendo azar
Ou destino inato
Dádiva?
Estar onde não devia estar

Tal mundo estranho
Não sabe se acanha-se
Ou espanta-se
Com um lindo canto

Tal mundo confuso
Não sabe de seu uso 
O que resplandece 
E logo acontece 
A “desordem”

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Entre Van Gogh


Não sou artista porque pinto
Ou porque esculpo
Sou artista porque sinto
E do que sinto
Arte faço

Arte que também é refugio
Segredos
Lágrimas e sorrisos
Medos

O interior
Que não mais julgo meu
Nem seu
Mas nosso

Não faço o que sou
Sou o que faço
E do que faço
Se faço
Arte sou

Não sou artista porque quero
Sou porque devo
Ou morro
Trancafiado dentro de mim mesmo

Crio
Se instigo
Se sou instigado
Creio
Em meu estado

Louco
Mal amado
Apaixonado
Farto
Insaciado

Perdido
Em pensamentos
Sentimentos
Ordinária loucura
Não atura nada
Ama tudo
Mudo
Deixo arte falar